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O Primeiro de Maio


Textos e Fotos: Carlos Morgadinho
Adiaspora.com

Adoptado na Europa, primeiro pela França em 1919 e pela Russia em 1920, foi acto seguido, ao longo dos anos, por todas as nações deste nosso mundo com excepção da Austrália, Estados Unidos da América do Norte e Canadá, este último comemorando esta data na primeira Segunda-feira de Setembro, o Dia do Trabalhador (Labour Day) que tem uma história bem sombria ou triste.

Todos os anos desfilam milhares de trabalhadores e os seus sindicatos pelas ruas de Toronto, desde as imediações da Câmara Municipal de Toronto em direcção à CNE (Canadian National Exhibition)  local de entretenimento que nós portugueses chamamos, lá na nossa santa terrinha, um park de diversões ou de feira popular.

Como tudo o que está ligado ao trabalhador e às organizações que os agrupa, o Sindicatos, nestas paradas anuais, muitos são os grupos de manifestantes que abertamente protestam as muitas leis que os governam e mostram, por cartazes bem visiveis, as suas criticas cerradas direccionadas aos nossos  governantes por abandono dos princípios básicos de protecção da classe trabalhadora bem como alertando para o perigo da liberalização dos trabalhos e as privatizações de muitos serviços públicos considerados essenciais para o bem estar do cidadão.

Muitas eram também os protestos pelos cortes de serviços em todos os sectores mais propriamente no sector da saúde e educação. Um dos sindicatos presentes, o CAW (Canadian Auto Workers), era um dos mais numerosos em face da presente crise de encerramento, no Canadá, de muitas fábricas ligadas ao fabrico ou montagem de viaturas e onde se exibia cartazes com slogans  “Make in Canada make the things better”.  

Os trabalhadores aproveitam este dia para alertar o público em geral das necessidades carentes do sector laboral como os aumentos de salários e melhores condições nos lugares de trabalho não esquecendo a protecção contra os acidentes. O desaparecimento de postos de trabalhos e a “exportação” destes são outros fenómenos que os sindicatos tentam acordar os legisladores para que assim se criem leis e condições de oposição ao encerramento de fábricas e companhias cujos trabalhos seguem para outros pontos do globo onde não existe protecção ao trabalhador e onde, na sua maioria, se pagam salários de “fome” sendo esses produtos manufacturados e posteriormente exportados, abaixo preço, para os países industriais com leis mais protectoras tanto para os trabalhadores como para o meio ambiente, inclusive para o Canadá.

Gostaríamos de reviver alguns factos “esquecidos” ou pouco divulgados aqui neste Continente  Norte da Americano que é o PORQUÊ do Dia do Trabalhador não ser no dia 1 de Maio mas sim no principio de Setembro (a primeira segunda-feira daquele mês), coisa que não acontece em toda a Europa. Isto tem a haver com uma manifestação realizada no dia primeiro de Maio de 1886, em Chicado, nos Estado Unidos, onde 500 mil trabalhadores saíram às ruas, em manifestação pacífica, exigindo a redução da jornada para oito horas de trabalho (em vez das 12 e 16 então em vigor).

A polícia reprimiu brutalmente a manifestação matando dez manifestantes e de ferir muitos outras dezenas de operários. Os trabalhadores não se deram por vencidos e no dia 5 daquele mesmo mês de Maio de 1886 organizaram outra grande manifestação com largas  centenas de milhares de trabalhadores nas ruas de Chicago associadas com greves generalizadas e que foi o culminar duma resposta violenta com outra acção ainda mais repressiva e brutal por parte das forças policiais saldando-se  com mais fatalidades entre polícias e manifestantes.

Ao certo nunca se saberá a verdadeira face destas cenas macabras, quantos mortos causou aos manifestantes mas há relatos de feridos a contarem-se às centenas após a policia ter disparado as suas armas indiscriminadamente sobre os trabalhadores onde muitos eram mulheres, velhos e até crianças.

Este acto prepotente e letal das autoridades do Estado de Illenois foi levado a Tribunal Internacional que pressionou o Governo de Washington a anular os julgamento dos “criminosos” trabalhadores e a elaborar um novo júri que, em 1888, num novo julgamento foi reconhecido a inocência de todas as acusações imputadas aos trabalhadores presos exigindo a sua libertação e culparam formalmente o Estado Americano de má fé.

Foi tarde demais para muitos que tinham sido encarcerados, quatro deles condenados à pena capital ou pena de morte e  que tinham sido executados logo a seguir aos seus julgamentos bem como à anulação das três a penas perpétuas. Resultado bem triste para quem, pacificamente, apenas pede que lhe seja feita justiça neste caso de ser decretado menos horas de trabalho.

Não se pode esquecer que mais de 30 ou 40 por cento dos manifestantes eram mulheres. Cento e vinte e três  anos depois destas manifestações dos trabalhadores de Chicago pela sua luta de oito horas de trabalho e de sofrerem uma brutal repressão por parte das forças da ordem e sem que houvesse motivo que o justificasse, a sua mensagem, de alerta, continua de pé, contra a prepotência do patronato e a oposição à privatização de serviços e ao desmantelamento das estruturas sindicais, aquelas que velam pela solidariedade, direitos e oportunidades do trabalhador, tanto salarial como social. 

O autor destas linhas foi, em Portugal, em África mais propriamente, há mais de 43 anos, dirigente sindical (então no tempo do Salazar) fazendo parte do Sindicato dos Bancários, e integrado em diversos comissões onde se tentava por todos os meios legais (mesmo entre linhas) flanquear as leis da ditadura para o sector de trabalho, que tinham sido promulgadas apenas para “inglês ver”.

Foram tempos difíceis com alguns dissabores vindos da polícia estatal, a PIDE, que não “brincava” quando trabalhava. Mas ao analisar o que “sofríamos” então,  nesses tempos já lá idos, e o compararmos com a visão aterrorizadora daquela manifestação em Chicago de 1886, talvez estivéssemos, naqueles anos dos sessentas e no alvor dos setentas (antes do 25 de Abril de 1974), a brincar com um “leãozinho de tenra idade”, que era a PIDE.

Pelo menos esta odiosa policia de Salazar não actuava tão às “claras” matando à bala, no meio das ruas, homens e mulheres que se manifestassem contra a ditadura. Ah, na prisão? Bom a história é diferente. Foram, não hajam dúvidas, muitos trabalhadores assassinados nas tenebrosas celas de tortura ou no Tarrafal (o campo de concentração, e da morte lenta, em Cabo Verde).

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